Faltam-me as palavras

Por estes dias, as palavras ficam-me na alma.
Toda a dor que sinto pelo momento que vivemos, paralisam a articulação do pensamento. Parecem pequenos sonhos, que recordo depois de um sono interrompido

Faltam-me as palavras para descrever o que sinto. O que vejo acontecer todos os dias. A ausência da liberdade e a resiliência. O medo da incerteza sempre presente e que não nos deixa antever o amanhã. O perigo deste vírus invisível, em doses elevadas de intensidade e velocidade de propagação sem igual. A coragem de tantos, a esperança que todos alimentamos e o final feliz que todos desejamos.

Guardo para mim a volatilidade das opiniões, das tomadas de posição, pelos comentários mais ou menos inflamados. Avanço com a minha perspectiva de vida positiva, de ver sempre o melhor das situações. Jogo com a serenidade, a ponderação. Resisto a por os óculos da escuridão e de entregar a vontade ao destino.

O que vejo, ouço e leio parecem marés-vivas, com ondas incontroláveis e descompassadas. Em que vir à superfície respirar, mais do que difícil, é uma tarefa a que temos de nos obrigar.
Como a cada dia ter sempre uma boa notícia, um gesto gentil, um toque de cor, um momento de alegria. Combater aquele-que-não-queremos-dizer-o-nome com um vírus com um poder de contágio ainda mais forte.
Uma corrente de abraços em forma de uma chamada, de apertos de mão em forma de mensagem, de beijinhos em forma de um olá à janela ou de um piscar de olho numa carta na caixa do correio.

O que quer que esteja ao  nosso alcance para melhorar o dia dos outros, retidos nas suas casas, mas que poderá mudar o rumo dos seus dias. E dos nossos também.
Todos os gestos que, dentro das possibilidades de cada um, possam substituir os abraços que não podemos dar e dizer as palavras que faltam.

Não sei andar de bicicleta 🚲

[foto Melih Bakir, Unslash]