A música é dar voz a quem precisa de ser escutado


Talvez tenha passado um pouco despercebida - não tem o glamour dos Óscares e por isso a repercussão nos media é menor -, mas a cerimónia dos Grammys tem sido nos últimos anos uma verdadeira surpresa, não apenas pelo espetáculo em si - com os grandes nomes do universo musical - mas seguramente pela afirmação social e política que os eventos de entretenimento têm atualmente. Este ano não foi exceção.

Na minha opinião, o momento alto foi o discurso de abertura, liderado pela Alicia Keys, que convidou para estarem ao seu lado Lady Gaga, Jennifer Lopez, Jada Pinkett Smith e Michelle Obama. Um discurso de empoderamento das mulheres e de como a música fez parte desse caminho. Um discurso de afirmação, de conquista, de determinação, de crescimento, de passado e de futuro. Um discurso de como a música é a voz - e muitas vezes a única - de quem tem alguma coisa a dizer.

Tenho uma admiração enorme por quem cria, produz, executa e nos faz chegar uma música. Quem põe tudo de si na melodia, na letra, nos acordes, na afinação, nos efeitos especiais, nos instrumentos, nas misturas, nos espetáculos, na divulgação... talvez nem eu saiba quantos serão os que têm a habilidade e o dom para fazer com que o 'produto final' seja exatamente como alguém o concebeu na sua cabeça, onde o ouviu pela primeira vez.

Ouvir uma melodia, trautear as letras e dançar uma coreografia livre são alguns dos meus guilty pleasures. Aprecio o silêncio, mas é-me impossível passar um dia sem música. Muda o meu estado de espírito e dá voz às minhas emoções. A minha vida tem uma playlist de canções que associo a bons momentos, e que regresso a elas vezes sem conta [se fosse no tempo do vinil, era até estarem gastos]. Gosto de canções dos anos 50, dos cantautores portugueses e dos últimos temas pop que passam na rádio. Perco-me com canções de amor - das pirosas e românticas - e com músicas que dêem para dançar [num momento revival das pistas de dança dos anos 80 e 90], onde quer que esteja... Gosto de acústicos, das versões unpuggled, dos duetos inesperados, dos covers com novas versões de uma canção. Gosto da energia dos concertos ao vivo, da vibração do público e das novas emoções que cada canção ganha.

E acredito que a música nos pode mudar e pode ser o caminho para a mudança. Que acompanha as mudanças sociais, o rumo da história mundial, que pode fazer a união na diferença e ser afirmação, pode ser partilha e agregação. E pode, como é dito no tal discurso de abertura dos Grammys, a voz de um que precisa de ser ouvido, mas que pode ser a voz de tantos outros que não têm oportunidade de ser escutados.


Não sei andar de bicicleta 🚲
[foto Maaria Lohiya, Unsplash]


O discurso de abertura da Cerimónia dos Grammys 2019
"Disseram que eu era estranha. Que o meu visual, as minhas escolhas e o meu som não iriam resultar. Mas a música disse-me para não lhes dar ouvidos. A música pegou nos meus ouvidos, pegou nas minhas mãos, na minha voz e na minha alma, e guiou-me a todos vocês e aos meus pequenos monstros, que adoro do coração." Lady Gaga

"No Bronx, a música deu-me uma razão para dançar. Do Hip Hop ao Freestyle Pop, do Soul à Salsa. E empurrou-me do bairro aos grandes palcos e ainda maiores ecrãs. Faz-me lembrar de onde venho, mas também me faz lembrar de todos os lugares onde eu posso ir.
A música sempre foi aquele lugar onde todos nos sentimos verdadeiramente livres." Jennifer Lopez

"Exprimimos a nossa dor, poder e progresso através da música, quer estejamos o criá-la ou apenas a apreciá-la. Mas eis uma coisa que eu sei: cada voz que ouvimos merece ser homenageada e respeitadas." Jada Pinkett Smith

"Dos álbuns da Motown que ouvi até se estragarem, no South Side, até às músicas como "Run The World" que me impulsionaram durante a última década, a música sempre me ajudou a contar a minha história - e sei que isso é verdade para toda a gente aqui presente. Quer gostemos de Country, Rap ou Rock, a música ajuda a partilharmos um pouco de nós, nossa dignidade e mágoas, as nossas esperanças e alegrias. Permite que nos escutemos uns aos outros. Para convidarmos os outros a entrarem. A música mostra-nos que tudo importa, cada história em cada voz, cada nota em cada canção." 
Michelle Obama

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