As marcas do tempo
Talvez seja esta a forma de me trazer a normalidade aos dias que vão passando. Que me relembre o que a vida tinha programado para mim, e que apenas preciso de remarcar estes momentos ou encontrar uma nova data para os celebrar.
Talvez seja esta a maneira de voltar a superfície, depois de muitos dias enrolada no turbilhão das prioridades. Não as minhas, que essas por força maior acabaram por ficar no fim da lista. Para quem até nem gosta de rotina, nos últimos meses reagendar, recalcular, repensar e reagir têm sido ações permanentes.
Talvez seja esta a forma de me mostrar que viver não tem a ver coleccionar momentos, mas com o que me faz esquecer que o tempo corre veloz e perceber que cada dia escolho o que me dá serenidade e me faz bem, mesmo em condições adversas.
Talvez esta seja a maneira de perceber que não há forma de parar tempo, mesmo que às vezes me tivesse parecido que a ausência de liberdade estivesse relacionada com a capacidade de o acelerar ou abrandar a meu bel-prazer.
Acredito que cada um de nós terá a sua própria história para contar destes tempos de confinamento. Uma vivência na primeira pessoa, que tendemos a normalizar, a encarar com responsabilidade, mas que tememos em todos os momentos.
E que vai muito mais além do que conversamos, do que escrevemos e partilhamos. Uma experiência que ninguém desejava, que se tem vindo a encontrar o seu espaço em cada um de nós, a criar raízes e que vai deixar as suas marcas. Aquelas que por mais que o tempo passe, vão ficar para sempre.
Não sei andar de bicicleta 🚲
[foto Guilherme Rossi, Pexels]
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