Não atravessar a linha



Desde sempre ouvimos dizer que os adolescentes entram numa fase em que têm vergonha dos pais. É mais serem vistos com os pais naqueles que são os seus ambientes. Querem parecer "crescidos" e que conseguem fazer tudo sem os pais. Não quer dizer que não gostem deles nem de estar com eles, mas vivem uma "vida dupla", pois são financeira e logisticamente dependentes dos pais, mas simultaneamente querem parecer que são independentes.
É que este estado de independência é vivido todos os dias pelos adolescentes. Basta pensar, por exemplo, no facto que, desde muito cedo, estes miúdos têm o seu próprio smartphone, com todas as possibilidades relacionamento social que proporciona. Seu, pessoal e intransmissível. E intransponível. Blindado com passwords.
Por isso não nos espanta ouvir histórias de miúdos que querem que os pais o deixem na curva antes de chegar à escola, preferencialmente sem visibilidade deste o portão, para que os últimos metros sejam feitos como se fossem cortar a meta de uma corrida [não me refiro à velocidade, mas ao momento de glória e de conquista]. O momento de reunião com os amigos e a entrada no seu mundo.

Como mãe, nunca me tinha acontecido uma situação assim. À medida que foram crescendo, fui dando aos meus filhos o espaço que precisavam e fui aprendendo a "sair de cena". E como muitas outras, esta regra também não vem no manual da paternidade e às primeiras vezes o coração fica muito pequenino. Fica o sentimento de que estão a crescer e a voar com as asas que a vida lhes dá.

Ontem, no entanto, tive uma situação com a miúda que me fez voltar a pensar nisto e em como este respeito pela privacidade dos adolescentes é importante. Foi uma situação banal (achava eu), pois como anda de muletas e estava atrasada, decidi entrar na escola para lhe levar a mochila até à sala de aula. Descontraídas lá fomos na "enxurrada" de miúdos, até que no corredor de acesso à sala de aula ela olha para mim - um olhar de pânico que tão cedo não vou esquecer - e me pergunta: "até onde é que estás a pensar ir? não vais entrar na sala, pois não?". Fiquei sem reação e apenas disse: "vou até onde queiras que eu vá". Nesse momento ia a entrar um colega na sala, a quem ela pediu que lhe levasse a  mochila. E aí respirou fundo.

Para mim ficou novamente o aviso para "não atravessar a linha". Identificar os sinais, respeitar a privacidade, aceitar que estão a crescer. Por muito que os ame e que queira que fiquem pequenos para sempre.


Não sei andar de bicicleta 🚲


Comentários

  1. É muito interessante este conceito de desapego que se vai fazendo a pouco e pouco durante o crescimento dos filhos. Mas o processo deve ser doloroso para um pai (e contra mim falo porque quando eu era mais nova também tive essas manias de adolescente).

    Miss DeBlogger | missdeblogger.blogspot.pt

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    1. o desapego é um processo. com momentos de dor, mas também de muita felicidade. o importante para mim é saber respeitar a individualidade e a privacidade, dando o espaço que precisam (tal como os adultos também precisam).
      um beijinho

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  2. É assustador pensar que um dia, e numa fase... vamos estar a mais...

    Não quero pensar nisso!!

    Beijinhos
    https://titicadeia.blogspot.pt/

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    1. não vamos estar a mais! vamos estar ao lado. o segredo para mim é estar disponível, sem impor a minha presença. aceitar o seu crescimento e dar espaço para que sejam independentes.
      um beijinho

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