Conversa de adultos


Na escola dos meus filhos a associação de pais (e muito bem!) dinamiza alguns encontros com profissionais de diferentes áreas, desde psicólogos a técnicos especializados, que informem os pais e, acima de tudo, permitam trocar ideias sobre alguns temas do interesse dos adolescentes.
Sim, é uma idade tramada, e apesar de nos lembrarmos bem como éramos há 20 ou 30 anos atrás, agora no papel de mãe ou pai a perspectiva muda. Os dias de hoje também são diferentes e mais complexos do que eram. Eles e os amigos continuam a saber muito mais que os adultos, mas o acesso à informação está à distância de um teclado e os pais têm uma vida profissional que os ocupa por mais horas. Um rastilho que facilmente pode levar a uma explosão eminente.
Por isso a minha estratégia, para além de tudo fazer para estar disponível para os meus filhos, passa por estar atenta aos interesses e preocupações da sua geração [nem sempre o que se passa na nossa vida é uma amostra fiel da realidade]. E a conversa sobre Parentalidade Proativa na Adolescência - o tema de uma dessas conversas com os pais - foi mais uma vez um alerta para dirigir a minha atenção noutras direções.
O exercício proposto aos pais presentes [sempre diminuto para uma escola com mais de mil alunos...] para identificar os assuntos que preocupam os adolescentes, primeiro do ponto de vista dos filhos e depois fazer o mesmo do ponto de vista dos pais. Registaram-se as sugestões da audiência e depois as psicólogas presentes desvendaram a realidade. Tudo ao lado!
Este foi o momento decisivo para compreender que, apesar de presente e interessada, há um mundo que desconheço. Não é bem que não saiba o que se passa na sociedade, mas o que me fez ficar admirada foi tomar consciência de faziam parte das principais preocupações dos adolescentes.
Entre outros temas, a sexualidade estava em destaque. O meu inconsciente dizia - claro que sim, é a idade das alterações hormonais, da descoberta da intimidade, das paixonetas..., também passei por isso. A questão é que isto é apenas a ponta do iceberg. Para os miúdos este tema é de uma complexidade que vai muito além do que vemos nos filmes que vemos e nos livros que lemos [achamos que é sempre tudo romanceado e são sempre situações extremadas].
A violência no namoro, as relações sexuais a partir dos doze anos, a identificação sexual (como a homossexualidade, mudança de género e a intersexualidade), o sexo não consentido e inconsciente (misturado com consumo de droga e álcool), gravidez e aborto na adolescência... Estes são os principais assuntos que sustentam as preocupações dos adolescentes. Que são falados no meio escolar, nas trocas de mensagens e nos chats. Que ficam registados em fotos e hashtags que partilham nas redes socais. Que os marca para a vida.
Tomar consciência deste facto -  pelos meus filhos e pela preocupação inata de os proteger - e perceber que há uma realidade que vai passando ao lado dos pais, separada por uma fronteira que naturalmente se vai construindo à medida que os filhos vão crescendo, mexeu comigo.
E no meio do turbilhão de emoções, entre o atónito e alguma frustração, também descobri que a resposta vem de uma coisa tão simples: é preciso falar sobre sexualidade. Pais e filhos. Conversar abertamente, sem tabus, com a verdade crua e dura, discutindo pontos de vista. Escutar de forma ativa, presente, atenta e disponível. E não existe uma data marcada, um momento para ter "a tal conversa de adultos". Cada adolescente terá o seu momento certo e cabe aos pais descobrir quando e como o deverá fazer. O importante é que falem e que não deixem que as respostas se encontrem num qualquer motor de busca. Descubram em conjunto e aproveitem o momento para criar uma ligação mais forte, aberta e de confiança.


Não sei andar de bicicleta 🚲

[foto Harli Marten, Unsplash]

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