O gang dos quatro


Há uns dias li um texto da Isabel Stilwell sobre ter irmãos e como este facto deveria contar dos CV. Negociar, defender o seu território, fazer alianças, entre outras aptidões, passam a ser inatas a quem tem de partilhar a casa e a atenção dos pais.
Mais do que a perspectiva da jornalista, fixei-me na imensa sorte que tenho pelos meus pais me terem dado irmãos e como isso me tornou na pessoa que hoje sou.
Sendo a segunda de quatro - com apenas 15 meses de diferença do meu irmão e mais 15 meses da minha irmã (sim, os tempos eram outros) -, tinha sempre companhia para tudo e não tenho recordação de estar sozinha. Aprendi a partilhar, a ter poucas coisas que fossem realmente só minhas, a viver muitos momentos em família de brincadeira. Andávamos todos na mesma escola e os amigos eram comuns. E com o nascimento do meu irmão mais novo, quando já tinha cinco anos, o gang tornou-se ainda maior.

Recordo as inúmeras noites de conversas até às tantas e ataques de riso, dos segredos trocados e juras de amizade, dos banhos de imersão cheios de espuma, do surto de varicela que nos apanhou a todos e nos fez acampar no quarto dos pais, de andarmos semanas a fio a juntar dinheiro para comprar uma mesa de mistura que todos queríamos, das viagens no banco de trás do carro e das idas à praia até ao pôr do sol, dos livros da escola que só eram novos uma vez, das cassetes de música e da pista de dança que eram os nossos quartos, de querermos sempre aquela camisola que o outro já tinha usado, de nos escaparmos ao quadro das tarefas, as primeiras saídas à noite e a partilha do carro (sempre sem gasolina...).

Ter irmãos e viver nesta alegria confusa e barulhenta - que não trocava por nada - marcou a minha personalidade. Este sentimento de pertença a algo maior deu-me confiança e preparou-me para os grandes desafios da vida. Mas também me fez, desde cedo, ser rebelde, afirmativa e independente.

Ter irmãos é a maior sorte de todas. E ser mãe de irmãos, como diz a Isabel Stilwell no mesmo texto, é reviver tudo isto outra vez. Agora de um outro ângulo.

Não sei andar de bicicleta 🚲

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