Time out: um ritual diário

Diz-se que o "tempo voa". E, realmente, andamos sempre a correr, a voar. Acordamos cedo, dormimos pouco. Queremos que o dia tenha 48h, queremos estar em todo o lado e usufruir ao máximo de cada momento. A nossa energia vai-se esgotando e, infelizmente, não dá para fazer como o smartphone e carregar em 2 ou 3 horas 100% da bateria e começar tudo de novo.

E queremos fazer tudo bem. Ter uma casa confortável e arrumada q.b. para que possamos usufruir dela e receber convidados. Estar com a família e poder  conversar de forma presente e interessada, com os filhos, com os pais, com os avós, com os irmãos, com os primos, os sobrinhos. Para namorar, para conhecer coisas novas, para voltar aos sítios de sempre. Combinar um programa com os amigos, os de infância, os da faculdade, os que a vida adulta nos deu, os novos amigos. Ir jantar aquele restaurante, dar um saltinho à praia, ir ao cinema ver o filme que estreou, tomar um café que dura toda a tarde. No trabalho, que tanto nos absorve, queremos chegar a horas, ser mais eficazes, mais pró-ativos, mostrar resultados, envolvermos-nos no negócio, aprender e ensinar, pensar, repensar, criar, estar sempre disponível.

No meio disto tudo, estamos nós. O tempo que precisamos ter connosco próprios. Que é sempre tão escasso e, por vezes, inexistente. Para ler, ouvir música, pôr as ideias em ordem, refletir, falar connosco, saber ouvir o nosso coração, o nosso corpo, estar em silêncio. Para cuidar de nós, não apenas pelo lado de fora, mas especialmente por dentro. Fecharmos-nos numa bolha, onde somos o melhor de nós. Onde somos a prioridade.

Difícil, bem sei. Mas não impossível. Encontrar o momento em que podemos ter este time out, não para ficar de castigo mas para aproveitar cada segundo a pensar apenas "em mim". Se calhar o segredo é dedicar esse tempo apenas a uma coisa. E se não for o tempo necessário, é o tempo que conseguimos. Tem que ser um ritual diário, sempre à mesma hora ou quando der, como uma toma diária de um medicamento que nos vai fazer bem à alma.
É uma terapêutica que pratico (e recomendo!) e que acredito que me dá energia para conseguir retirar ainda mais de cada um dos meus dias.


Não sei andar de bicicleta 🚲