O que guardam as mãos


Gosto de mãos. Do toque. De sentir. Gosto do calor das mãos. De sentir a pele macia. A leveza do seu peso e a graciosidade dos seus movimentos.
De fazer festinhas com a ponta dos dedos. De estar de mãos dadas. De apertar com firmeza. Confiar. De agarrar para ajudar a levantar. De ser apoio numa mudança de direção. Dar segurança. Gosto de cruzar os dedos com a mão de outra pessoa. E de percorrer com os dedos as linhas da palma da mão.
Gosto das marcas nas mãos. Da pele que se enruga com o tempo. Que muda a sua tonalidade. Das manchas e sinais de uma vida longa. Gosto de mãos com os dedos largos, como as do meu pai, ou com dedos longos - de pianista - que herdei da minha mãe. Gosto de mãos que contam histórias. Gosto de mãos nuas. Mãos ao natural, despidas, sem ornamentos.
Gosto de observar o movimento das mãos. Enquanto falam, quando dançam ou a servir uma refeição. Quando viram mais uma página de um livro, quando mexem no cabelo ou ajeitam uma peça de roupa. Quando se atrapalham e não sabem o que fazer com as mãos. Do poder que têm
para fazer o bem, para pedir a palavra, para dizer que não.
Gosto do som das mãos. Das palmas, do ritmo, do estalido dos dedos, de quem vê música no som que produzem. Gosto das mãos de quem fala através delas, quando não tem outra forma de se fazer entender.
Gosto da naturalidade com que um bebé aperta com a sua mão o dedo de um adulto, como põe a sua mão nas costas do nosso pescoço quando está ao nosso colo e como uma criança nos dá a mão para ir dar um passeio. Gosto da ternura de um casal avançado na idade que passeia de mãos dadas.

Gosto de mãos que falam. Que dizem sem palavras o que sentimos. Que queremos segurar um pouco mais, que não conseguimos largar. De mãos que, se fecharmos os olhos, ainda sentimos a memória de todas as vezes que as segurámos. Mãos que sentimos a ausência, que dávamos tudo para segurar outra vez.
Gosto de juntar as minhas mãos a outras. Trabalhar em conjunto, poder fazer a diferença. Unir-me a outras causas. Sentir que a minha mão pode ser importante para os outros, que podem contar comigo.
Gosto de guardar momentos nas minhas mãos. Como se fosse possível segurá-los com força, sem os deixar escapar entre os dedos. Gosto que o tempo pare quando dou a minha mão.


Não sei andar de bicicleta 🚲
[Foto Bruce Hong, Unsplash]

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