O tom do que dizemos


As mensagens escritas vieram tomar um lugar importante nas relações. Diria que dificilmente viveríamos sem a sua instantaneidade e possibilidade de dispersão, a um ou vários interlocutores. Criamos grupos no whatsapp com diferentes temáticas e para todos os assuntos, preferimos enviar um sms a dizer que estamos atrasados do que telefonar e usamos todos os canais que temos ao nosso dispor para partilhar uma informação ou uma imagem que achamos que poderá fazer a diferença no dia de alguém. Existe um léxico próprio, cheio de abreviaturas e símbolos que substituem as palavras.
Escolhido o meio escrito, entre o emissor e o receptor, a mensagem será sempre a rainha. Desde pequenos recados, avisos e lembretes, a longas conversas e flirts, as mensagens escritas podem ser o princípio (e o fim) de relações e podem ser o ponto de encontro dos amigos (os de sempre, os da universidade, os do jantar das terças-feiras, os das corridas).
No entanto não são fidedignas, não são transparentes, são apenas uma parte e não o todo. A riqueza das palavras, com o seu efeito de sublimar o que o nosso pensamento cria, aparece-nos de forma crua e sem a pele que lhe queremos vestir. Falta-lhe o tom. O que dizemos por escrito sujeita-se à interpretação subjetiva de cada interlocutor no processo de comunicação.
Podemos utilizar a pontuação e até os inúmeros artefactos que entretanto surgiram para substitui-lo, mas quantos de nós transforma a mensagem numa conversa de um para um e acrescenta-lhe uma nova roupagem?
Vejo-o como se perdêssemos um dos nossos cinco sentidos e tivéssemos de o substituir por uma nova forma de ver, ouvir, tocar, saborear e cheirar. Não seria igual.
Não podendo mudar a realidade deste mundo cada vez mais digital, também nas relações, tenho esperança que também para o tom das mensagens seja inventado um mecanismo - através de pontuação, símbolos ou outro qualquer - que permita que o que seja escrito seja claro e inequívoco para quem a emite e quem a recebe. Ou então, que as conversas face a face, presenciais ou não, voltem a ser a opção, para que o que se diz seja dito e entendido de igual forma.


Não sei andar de bicicleta 🚲
[foto Priscila Du Preez, Unsplash]

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