Dar uma oportunidade à coragem


Quem nunca teve medo, ponha a mão no ar! E não me refiro ao medo do escuro, medo de alturas ou medo de algum animal rastejante. Estou a falar daquele medo que nos prega ao chão, nos prende os movimentos e nos silencia as palavras. Aquela força que faz adiar, perder, fugir, evitar uma determinada situação. Um medo que cresce para pânico só de pensar. Com o tempo vai acumulando camadas e ficando cada vez mais sólido e resistente, que ajuda a criar uma barreira, a escondê-lo e, de forma inconsciente ou não, a esquecê-lo. Um medo que as reservas de dose de coragem não conseguem ultrapassar.

Tenho muitos desses medos. Aqueles que a época infanto-juvenil ia tratando por tu, porque não lhes dava hipótese de ameaça, numa fase em que tudo-podia, embalada pela ingenuidade própria da idade. Mais tarde regressaram, assumindo uma presença mais real, talvez pela segurança (ou insegurança) que a vida adulta traz.

Tenho muitos desses medos. Mas admitir que os tenho é o primeiro degrau de um daqueles programas de doze passos. Consigo medir a sua intensidade, perceber porque existem, saber qual o prioritário - é uma luta desleal lidar com todos em simultâneo -, quase dar-lhes um nome. Procuro que não se colem a mim, sei que existem mas não lhes dou a importância que eles querem ter, procuro que não interferiram na minha caminhada. Olho-os nos olhos e, sempre que os encaro, procuro força e coragem para fazer-lhes frente.

Faz agora quatro anos que tive a coragem de enfrentar um dos meus maiores medos. Um medo que me fez adiar uma das decisões mais importantes da minha vida e que a mudou para sempre. Uma mudança que, para além de mim, envolvia e teria impacto nas duas pessoas mais importantes da minha vida.
Era uma decisão tomada e que tinha de a verbalizar. Idealizei o momento, pesei as palavras, pensei no tom, camuflei o olhar, contive a emoção, respirei fundo. Sabia que ia provocar dor, um momento desagradável. Temi reações, antevi uma sucessão de acontecimentos negativos. O medo estava lá, mas a coragem teve a sua oportunidade e soube - e bem - aproveitá-la.

Viajo muitas vezes até esse dia. E recordo o que se passou depois. Como a serenidade se acomodou, como a bonança chegou depois da tempestade, como o medo se desvaneceu quando a coragem e o amor falaram mais alto. Com tropeções e com curvas e contracurvas, a vida foi tomando o seu rumo.
E, se hoje ainda alguns medos ainda persistem, muitos também vão deixando de estar na lista. E este momento é sempre fonte de inspiração e força para continuar. ❤


Não sei andar de bicicleta 🚲
[foto Priscilla Du Prees, em Unsplash]

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