Mais razões para sorrir




Chegámos ao último dia do ano.

E que nome poderíamos dar a 2020? Como o cognome de um Rei, uma palavra ou frase que o resuma.

Como li algures, 2020 foi um ano ao contrário. Um ano em que nada do que tinha sido previsto aconteceu. Em que foi preciso repensar, reequacionar, reformular, reinventar. Um ano que obrigou a desistir dos sonhos, a colocar em pausa os desejos que tanto ambicionamos.

Muitos dirão que 2020 foi um ano para esquecer. Pelo que perdemos. Pelo que nos foi tirado. Pessoas, afetos, a liberdade, estar presente. E tudo o que é material, o trabalho de uma vida, o resultado da precaridade em que tantos sobrevivem. Foi um ano duro, duríssimo. Um ano para o qual ninguém estava preparado. Da dor da ausência.

2020 também foi o ano do confinamento, de ficar em casa por obrigação - e proteção. E da coragem dos que tiveram que deixar esse "lugar seguro" onde estão os seus, para cuidar dos outros. Um ano de pânico, de estar alerta, da incerteza, de abrandar, de fragilidade, de resiliência e paciência.

Um ano com mais tecnologia também é um nome apropriado. Os meios digitais foram sem dúvida criadores de pontes, facilitadores da normalidade desejada, e também um recurso para afastar a solidão. Foram uma tábua de salvação para as famílias, para as escolas, para as empresas. Nunca estivemos tão ligados, mesmo que distantes.

Para mim, 2020 será sempre o ano em que tive menos razões para sorrir. Ou em que sorrir foi mais difícil. Pela ausência de momentos verdadeiramente felizes, de poder estar de forma despreocupada com os que são muito importantes para mim. Por não poder abraçar, beijar, tocar, estar junto. Pela ansiedade de desconhecer o desenrolar dos dias, como me afetaria e aos meus. Sempre com a sensação de que há uma sombra que me persegue e da qual me quero (e tenho de) proteger. Pelo o que a falta de liberdade me tirou. Por tudo o que teve de ficar em pausa. Limitada de poder sonhar mais alto, de experimentar, de criar, de conhecer mais. Pelas medidas de proteção que me escondem a expressão facial. Que fazem com que tenha de exercitar outros músculos, não apenas da cara, e aprender a sorrir com todo o corpo. 

Por isso, quando estiver em contagem decrescente para o novo ano, apenas vou pedir um desejo: mais razões para sorrir. 


Não sei andar de bicicleta 🚲
[foto Wyron A, Unsplash]

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